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Friday, June 22, 2007

Videodança – espetáculo de dança em vídeo?


A videodança e o bailarino

Um espetáculo se instaura por intenção de um artista e presença de um (ou mais de um) espectador.

A dança, por ser um conceito abstrato, pressupõe um corpo ou corpos que a dancem. A dança é uma arte visual, espacial e temporal.

As imagens da dança podem ser capturadas em vídeo, e isso tem acontecido desde muito cedo desde o desenvolvimento das técnicas de seqüenciamento animado de fotografias. Como ferramenta de captura e armazenamento das imagens da dança, o vídeo é bem aceito e compreendido. Trata-se de um instrumento de registro, útil para aulas, improvisos, laboratórios coreográficos, espetáculos.

Além dos registros, uma nova gama de relações entre vídeo e dança tem sido descoberta e ao mesmo tempo criada. Descoberta, porque a sua possibilidade passou a existir desde o instante em que, havendo dança, houve também vídeo, e essas relações que não “foram”, mas “estão sendo” encontradas. Criada, porque as técnicas para estabelecer essas relações estão em desenvolvimento; são uma prática “in progress”, com meios e produtos em processo de invenção. A videodança é uma obra híbrida que necessita de criadores, intérpretes e realizadores, e que tem tentado firmar sua identidade enquanto gênero e enquanto resultado de um legítimo fazer artístico. É necessário promover estudos críticos que teorizem e reflitam sobre esse fazer e seus resultados para investigar as diversas implicações (estéticas, tecnológicas, culturais...) dessa hibridação.

A videodança propõe uma alteração nas concepções até então conhecidas a respeito do conceito abstrato dança. Talvez essa razão explique algumas das resistências à sua aceitação encontradas, por exemplo, entre a comunidade de dança. A própria fisicalidade, que é percebida e trabalhada pelo bailarino como o específico da dança, passa de uma importância absoluta a uma importância relativa, visto que as características espaciais e temporais da dança são modificadas na obra de videodança.

Na videodança, o tempo da dança torna-se dois tempos distintos e simultâneos: o tempo em que a imagem foi capturada e o tempo em que está acontecendo a reprodução da imagem. A execução da dança não está sujeita a modificações ou imprevistos, como ocorre com o espetáculo ao vivo. Ela não está atrelada à vida do bailarino, e independe da presença dele. Além disso, aceleração das imagens ou câmera lenta podem interferir no curso temporal dos movimentos. A ordem de execução de movimentos pode ser completamente alterada, entrar em loop, ser revertida ou simular timings não praticáveis para um corpo humano treinado em qualquer técnica.

Também o espaço tridimensional euclidiano, onde caracteristicamente a dança real acontece, aparece na videodança necessariamente descaracterizado pela projeção em um plano bidimensional e pelo recorte realizado pela câmera. A lei da gravidade e demais leis da física podem ser ultrajadas por meio dos recursos de captura de imagens e de montagem. Os corpos humanos podem ser mostrados em situações impossíveis no mundo concreto. O bailarino se vê em lugares e ações que não reconhece, e a dança não está mais no corpo, mas nos arquivos de imagem que mostram, conformam e deformam aquele corpo.

O resultado expressivo da obra de videodança é outra dimensão em que a contribuição do bailarino torna-se relativa. Por mais perfeitos e expressivos que sejam os movimentos realizados (e certamente a qualidade da videodança será superior se os movimentos tiverem grande clareza de expressão), o resultado expressivo que sobressai na obra em vídeo é fruto da perícia da montagem. Uma boa montagem tem o poder de manipular as respostas psicológicas do espectador e pode conferir às imagens do bailarino quaisquer diferentes conotações. Aqui, diferentemente da apresentação diante do público em tempo real, o bailarino não tem o controle sobre a dimensão expressiva da dança.

Em vista de todos esses aspectos, levantam-se uma série de questões. Como avaliar o papel do bailarino, intérprete da dança, nesse tipo de obra de dança que prescinde da sua presença física em cada reapresentação? Como a realização de uma obra de videodança altera a relação do bailarino com a própria dança, uma vez que, na filmagem, o bailarino normalmente não executa toda uma coreografia em uma única tomada, mas repete diversas vezes pequenos trechos coreográficos? Como o bailarino se relaciona com a câmera? Como se sente com a não-presença de público para assisti-lo dançando? Como o bailarino se relaciona com a sua imagem gravada, manipulada e fixada em um resultado que pouco se parece com o que ele efetivamente realizou?

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O meu melhor papel nesta vida é o da aprendiz. Por isso o nome deste blog é apprenticeship, e provavelmente por isso gosto e quero fazer cada vez melhor o papel de professora. ..