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Thursday, May 06, 2010
Questão de ética... qual o motivo para umas pessoas respeitarem às outras?
Adorei esse texto do Lévy (LÉVY, Pierre (2007): A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço (5 ed.). São Paulo: Loyola. p. 27). O livro fala do mundo agora mediado por computador e por tantos outros aparatos que nos permitem conversar e ventilar nossos pensamentos e nossas identidades está construindo uma grande forma inteligente coletiva. Mas o trecho reproduzido a seguir me fez refletir sobre um outro tema que vem ocupando meus pensamentos com frequência ultimamente: ética. Tenho tentado compreender a ética que rege as minhas atitudes, desde que assumi que não enquadro meu comportamento exatamente nos ditames da moral cristã (que embasam os princípios éticos mais arraigados na nossa cultura ocidental de raiz judaico-cristã).
O Lévy diz:
"Postulemos explícita, aberta e publicamente o aprendizado recíproco como mediação das relações entre os homens. As identidades tornam-se identidades de saber. As consequências éticas dessa nova instituição da subjetividade são imensas: quem é o outro? É alguém que sabe. E que sabe as coisas que eu não sei. O outro não e mais um ser assustador, ameaçador: como eu, ele ignora bastante e domina alguns conhecimentos. Mas como nossas zonas de inexperiência não se justapõem ele representa uma fonte possível de enriquecimento de meus próprios saberes. Ele pode aumentar meu potencial de ser, e tanto mais quanto mais diferir de mim. Poderei associar minhas competências às suas, de tal modo que atuemos melhor juntos que separados. As “árvores de competências”, hoje comuns em empresas, escolas e quartéis, permitem desde já ver o outro como um leque de conhecimentos no Espaço do saber, e não mais como um nome, um endereço, uma profissão ou um status social."
Esse é um tipo de reflexão ética que me interessa. Não está sujeito a dogmas de uma moral moldada por nenhum tipo de religião. Não vou respeitar o outro porque ele é o meu "próximo", "irmão", "ser humano", "filho de Deus" ou qualquer outro conceito inspirado por um ideal de "fraternidade". Pensar o respeito pelos demais humanos da forma como Lévy descreve me agrada, porque parece propor um tipo de respeito moldado pela liberdade. Reconhecendo no outro experiências, saberes e competências diferentes das minhas, considero o valor que essa pessoa tem de ocupar um lugar no mundo que é dividido comigo e, pela consideração desses valores, troco a idéia de "dividir" ou "repartir" o espaço (ou seja, uma idéia de que o outro está ocupando algo que poderia pertencer a mim, pela idéia de "compartilhar" tanto o território quanto as idéias, para que reciprocamente ambos vivamos melhor. É uma justificativa para aceitar a simbiose entre nós seres ocupantes de um mesmo tempo e um mesmo espaço.
Provavelmente para aqueles muito contaminados pelos pensamentos cistãos essa minha afirmação de um egoísmo primordial soará muito impoliticamente correta. Porém, não irei jamais negar as molas íntimas que me movem. Lévy me ajudou a entender que eu respeito o outro não porque isso é "fazer o bem"; respeito-o porque sei que não sei e não me interesso por todo tipo de assunto, e que os outros que desenvolvem essas outras competências tornam a minha vida contemporânea mais interessante, saudável, confortável, rica e estimulante. Isso é inteligência coletiva.
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- stela menezes
- O meu melhor papel nesta vida é o da aprendiz. Por isso o nome deste blog é apprenticeship, e provavelmente por isso gosto e quero fazer cada vez melhor o papel de professora. ..