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This blog is a compilation of thoughts on things I've been learning.

Monday, July 25, 2005

Ballet

Essa é uma arte tão antiga... uma estética de dança que foi criada em séculos tão diferentes de agora, e cá estamos nós, criaturinhas do século XXI, repetindo essa tradição.
Justamente nisso está um dos desafios. Você atingir essa estética de outrora é bastante difícil. Fácil é ir ao baile funk, ser super contemporânea, de jeans, blusinhas moderninhas, dançar, gritar e rebolar.
Mas não: nós praticamos todos os dias a difícil arte de esticar os pés, retesar a postura, alinhar, alinhar, alinhar... Esforço muscular, esforço articular, esforço respiratório... E a expressão clássica, nobre, elegante, aristocrática. Coisa que realmente não somos: aristocratas.
Mas somos sinceras nessa busca. É um esforço de auto-superação constante. Nada é relaxado no ballet, nada é fácil, embora o resultado buscado possa ser ás vezes um gesto ou passo muito simples.
Por mais simples que seja, todo gesto no ballet é elaborado, deliberado, dominado. Não é a estética do abandono, do deixa cair, do deixa fluir. Ballet conduz, calcula, planeja.
Minha busca agora é chegar a um ponto de dança no ballet. Considerar um pouco assimiladas e vencidas as barreiras da aristocracia, e deixar a expressão transbordar a técnica. Enquanto estamos dançando como se estivéssemos no limite do que conseguimos fazer, demonstrando esforço e correndo atrás da capacidade muscular, articular e respiratória, não ficamos bonitas dançando ballet. Arrasamos com a estética. Ballet é: tudo lindo e tudo expressivo. A beleza clássica é o primeiro requisito, imponderável.
Isso é o que faz as estrelas. sim, porque ballet é uma arte de estrelas. Tem o corpo de baile, aqueles males necessários que enfeitam, preenchem, decoram ou ornamentam. Ocupam o tempo em que a estrela está se recuperando ou sendo vestida e preparada para apróxima entrada triunfal. O corpo de baile é a arte de ser igual, plano, sem destaque: lindo e limpo, porém compondo com os outros, com o cenário, com as cores e ornamentos. O corpo de baile não é um lugar para individualidades.
Se esse é o nível de arte em ballet a que se chega, muito bem: exponha-se a sua arte no corpo de baile, porque ainda assim você está fazendo parte de tudo isso. Você participa do espetáculo; você ensaia, se veste e se maquia, você sobe no palco e espera por algumas fotos e uma filmagem no final. Você se sente um pedacinho daquele momento de glória, especialmente se o espetáculo foi um sucesso (como a recente Gala que foi apresentada no Teatro da Puc/Porto Alegre em 17 de julho de 2005).
Ser uma estrela deve ser muito bom, mas é muito difícil. Você brilha sozinha o seu brilho, mas você também trilha sozinha a maior parte do seu caminho até o espetáculo. Você não é tão dirigida, tão sustentada pela produção e pela direção. Claro, no final do espetáculo, o maior mérito é seu, o maior cachê é seu, a maior publicidade é sua.
Quanto a mim, estou aprendendo a ser corpo de baile. É a minha chance de ser uma entre iguais, coisa interessante para uma filha única, que nunca conviveu com irmãos, com os seus iguais. Do ponto de vista psicológico, tem uma vantagem para mim aí. se eu aprender esse convívio, e realizar com excelência esse papel de um dos elementos múltiplos, quem sabe, se meu corpo ainda der e fizer parte do meu destino, eu consiga ainda realizar algo mais individualmente expressivo dentro dessa estética do ballet clássico. Porque isso é verdade, sem mentira, certo e muito verdadeiro (como dizia Hermes Trismegisto): Adoro dançar. Preciso me expressar dançando. E preciso EXPRESSAR.

1 comment:

stela menezes said...

Obrigada, Léo! E parabéns pelo Tcc. Formar-se é um sonho que persigo...

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O meu melhor papel nesta vida é o da aprendiz. Por isso o nome deste blog é apprenticeship, e provavelmente por isso gosto e quero fazer cada vez melhor o papel de professora. ..