Pages

This blog is a compilation of thoughts on things I've been learning.

Friday, June 16, 2006

Participação da turma de contemporâneo no Encontro Meme de Arte Experimental




Nesta quarta-feira, 14 de junho de 2006, aconteceu o 2º dia do Encontro Meme de Arte Experimental. Nesse dia, vários artistas (bailarinos, coreógrafos, músicos, atores, performers, artistas visuais, fotógrafos e outros assemelhados) foram convidados e reuniram-se no Teatro Renascença para mostrar seus trabalhos e também para fazer "experimentos em tempo real".
Eu fui convidada na qualidade de pesquisadora/criadora, e levei 14 pessoas da turma de contemporâneo do Domus para que eles mostrassem em cena o que temos trabalhado até agora, em uma montagem que estamos realizando para este ano. Compareceram os seguintes alunos: Priscilla, Manuela, César, Rafael, Everton, Melina, Gabrielle, Gabriela, Karine, Nicole, Sharon, Bianca, Bibiana, Cibele. Além desses, a Juliana foi como convidada para apresentar o solo coreografado pela Priscilla, e a Vanessa, para apresentar seu duo com o Rafa, esses dois trabalhos na qualidade de intervenções em espaço alternativo (no saguão do teatro). Infelizmente, por modificações na estrutura do evento, esses dois trabalhos não foram apresentados, pois os bailarinos sentiram que o público iria dispersar devido ao adiantado do horário. Descontando essa ocorrência, tudo indica que a oportunidade foi de muita riqueza e crescimento para os artistas e público envolvidos.
Para o pessoal que veio de Novo Hamburgo, foram muitas aventuras, iniciando pela organização dos carros para a "viagem" e a descoberta do percurso até o Teatro, que não é tão simplesinho de chegar, especialmente na hora do pique no trânsito que eles pegaram. Chegando ao teatro, outra aventura: nosso camarim ficava no andar superior, com acesso por uma escada semelhante às de incêndio. As meninas de bota e saltão passaram algum trabalho...
O trabalho que apresentamos está bem incipiente em seu processo. Há algumas estruturas marcadas, inclusive em música. Há outras estruturas muito abertas, que eles devem percorrer qundo os encontros acontecem. Há muito espaço para improviso e, como eu sempre digo, para ser preenchido com a PRESENÇA dos bailarinos. Acho que isso é um dos meus maiores objetivos, na qualidade de professora, a atingir com essa turma neste momento. Eles têm bastante técnica corporal e bastante expressividade também, mas essas condições ainda estão muito condicionadas às coreografias marcadas e ensaiadas à exaustão, onde todos já sabem tudo o que deve acontecer. A idéia aqui foi quebrar essa "segurança" da coreografia pronta, e jogar para eles a responsabilidade de preencher o trabalho com os seus corpos, os seus movimentos, os seus sentimentos e a sua capacidade de tomar decisões em cena.
No ensaio que fizemos no palco, não gostei do resultado. Achei os bailarinos distantes, tímidos, inseguros. Em geral, o trabalho aconteceu muito no fundo do palco (este palco é bastante profundo), com muitos momentos de costas e com algumas caras de susto. Essa foi uma orientação que passei para eles depois dessa passagem de palco: pedi interação com a platéia, relação com a platéia. Pedi que usassem mais a frente do palco e que procurassem perceber e integrar-se com o público. Eles perguntaram o que significava isso, se podiam sair do palco, falar, olhar para o público, etc. Eu disse que tudo podia...
No final da primeira apresentação da noite, aconteceu um fato muito notável. Como haviam ficado muitos pingos de cera no chão, e havia umas fitas a serem retiradas, a Marisa entrou tocando (acho que DARBAK) e o pessoal do Meme começou a dançar e retirar esses elementos do palco. Em determinado momento, o Laco falou aos bailarinos que estavam ali por perto que eles poderiam entrar também em cena, dançar e ajudar a limpar o palco. Pois bem, os três meninos de Novo Hamburgo foram em frente, e bem felizes. Eu adorei a manifestação, e fiquei um pouco intrigada porque nenhuma das meninas teve o impulso suficiente para ir... Imagino que algumas tenham tido uma ponta de vontade, mas o que as impediu??? O que tranca as pessoas?? Que medos e vergonhas e rubores são esses? Não são anjos de mármore, então, porque não conseguem se deixar manifestar? Enfim, considerei a participação dos rapazes nesse momento um sucesso.
Quando chegou a hora do nosso trabalho (4ª apresentação da noite) fiz um experimento com um músico. Convidei Marcus, um saxofonista que estava participando de outros trabalhos, para entrar e tocar de improviso no início, quando o César faz um solo e ouve-se a poesia "Romaria" do Carlos Drummond de Andrade. Não gostei muito do resultado, porque achei que o sax tem um som muito intenso que mata um pouco o impacto da poesia. Acho que só a gravação do poema deixa a atmosfera inicial mais intimista, mas foi muito válida a experiência, pois assim nos integramos mais à proposta da experimentação e da intervenção de outros artistas.
O início feito pelo César foi bom. No ensaio ele estava ainda inseguro, mas conseguiu boa concentração quando realmente entrou em cena. Infelizmente a vela que trazia logo se apagou. Isso tem se constituido em um pequeno problema, esses nossos objetos cênicos. Usamos velas de sete dias, porque elas têm boa base e ficam firmes no chão, mas os pavios são muito finos e apagam com muita facilidade. Temos que rever as velas a utilizar.
Outra coisa que foi mexida nesse dia foi a entrada da procissão. Normalmente ensaiamos como se as pessoas entrassem de coxia, mas o teatro estava sem as coxias. Modifiquei a entrada, fazendo com que a procissão já viesse entrando durante o solo do César, percorrendo um caminho lateral até chegar na diagonal. Gostei desse resultado, vou tentar encontrar sempre uma solução assim, para dar melhor a idéia de que a procissão vem de longe. Quem faz tudo de joelhos vai sofrer um pouquinho, mas acho que isso faz parte exatamente da proposta, pois em procissões há gente disposta a fazer seu sofrimento expiar algumas culpas ou valer algumas graças... O pessoal ainda tem que se entregar muito mais à proposta temática do trabalho, e essa imersão deve partir da vinda da procissão. Eles têm que construir cada um o seu motivo de estar ali, a sua busca, e os seus significados espirituais. Esse é outro objetivo que espero alcançar a partir dessa experiência de proceso em cena. Acho que esse objetivo pertence um pouco à professora, que está tentando mostrar aos seus alunos um processo de composição em dança contemporânea, e um pouco à coreógrafa, que quer bailarinos instrumentalizados para responder às demandas da obra coreográfica. Nesse caso, o tema não é mesmo simples. Falar da religiosidade ou da espiritualidade requer uma investigação particular que talvez estes bailarinos nunca tenham feito, ou não tenham achado importante fazer. Estou solicitando que os bailarinos reflitam sobre o papel da espiritualidade nas suas vidas, e ainda preciso encontrar muitos outros recursos para suscitar esse tipo de reflexão neles, e para transformar essa reflexão em movimento e em cena. É desafio tanto para eles quanto para mim.
Achei que eles entraram ainda tímidos, mas que foram ganhando confiança com o desenrolar da apresentação. Nos momentos finais, gostei realmente do resultado que vi. Percebi com muita clareza o pessoal buscando o público; reconhecendo a presença do público e tentando uma relação com eles. Algumas pessoas vieram bem à boca de cena, houve quem saísse do palco e caminhasse entre a platéia, com uma vela. Houve olhares e passagens pela frente, inclusive de bailarinos que geralmente se escondem mais. Essa foi uma das vitórias da noite, e que me dixaram muito satisfeita com os resultados "didáticos" obtidos. A ocupação do espaço foi boa; os bailarinos souberam se distribuir com equilíbrio em cena, o que comprova que eles estavam tmabém conscientes da presença e do deslocamento dos colegas. Alguns interagiram entre si, o que é sempre interessante. Percebi que os improvisos partiram das estruturas de movimentos já trabalhadas, e que elas se abriam e se transformavam, dando espaço para uns poucos momentos de maior ousadia. Obviamente há muito mais a percorrer até que se possa afirmar que o pesoal adquiriu "técnica de improvisar", mas percebo que eles já estão entendendo o improviso como algo que tem seus requisitos para não ficar simplesmente uma grande incoerência, e estão começando a se movimentar dentro dessa compreensão.
O que percebi como necessidade para tornar o trabalho menos monótono é que temos que esclarecer os momentos em que certas pessoas ou grupos devem receber destaque, onde os outros devem se manifestar mais como fundo para conferir força às figuras principais. Preciso então pensar em maneiras de unificar mais o plano de fundo, ou seja, os bailarinos queformam a modura para que as cenas en destaque apareçam e possam ser lidas com mais clareza. se todos ficam em deslocamento o tempo todo, fica uma monocordia tediosa, e perde-se o interesse coreográfico.
Os figurinos são também uma incógnita. Achei bastante limpo utilizar as cores azul e branco. Os tipos de roupas que eles trouxeram não foram ainda todos adequados. Essa pesquisa eles terão que fazer com a composição dos estados, que está mesmo em fase inicial. A coreografia ainda não está tocando emocionalmente, e isso deverá evoluir. Estou bastante curiosa para ver os resultados que vão aparecer nas próximas vezes em que trabalharmos o nosso processo em sala de aula, e também para perguntar sobre as impressoões que eles absorveram dessa experiência.
Falando do evento de maneira geral, foi muito positivo, e inovador, pelo menos neste local e neste tempo. Não tenho visto este tipo de evento em nossos arredores. Alguns dos trabalhos apresentados estavam já com mais estrada, com muita estrutura pronta e mais formatados, enquanto a maioria foi realmente de cunho improvisatório e experimental. À medida que observavam os trabalhos, vi que alguns de meus alunos perceberam a criação de um fio condutor dentro dos improvisos, que os tornam coerentes e muito interessantes. Entre comentários que ouvi, achei interessante como eles perceberam os demais bailarinos do evento como muito "fortes" (querendo significar que as pessoas eram muito experientes e com muito domínio de cena). Foi muito importante também ver tantos homens em cena (que não é tão comum no cricuito de festivais estudantis que eles geralmente frequentam), ver o uso de recursos como a fala, a interação de músicos e bailarinos, o trabalho com tecido e também a atividade da artista que ficou trabalhando com argila durante as apresentações.
No final, os participantes foram chamados para uma conversa com o público. Infelizmente, eu (opinião realmente particular) não gostei da tônica dos debates neste dia. Ficou-se na discussão da formação de público para este tipo de trabalho, nos conceitos de "experimental" ou "contemporâneo", nas políticas públicas para incentivo a encontros de arte, na cobertura da mídia, na captação de verbas.... E não houve tempo para debater o que eu teria achado mais interessante, os processos diversos que foram apresentados. Talvez porque me interessa muito saber dos processos de outros artistas, como eles nascem e se desenvolvem, que recursos eles usam para chegar aos resultados de suas pesquisas, etc. Fiquei sentindo falta disso. E também fiquei chateada porque não foi feito nenhum intervalo, que seria o momento para as intervenções com os dois outros trabalhos que o pessoal de Novo Hamburgo pretendia apresentar. Como o debate já aconteceu um pouco tarde, os bailarinos perderam o clima, e desistiram de mostrar os trabalhos. Acho que teria sido muito válido, porque seria uma inversão da ordem normal das coisas. Os trabalhos experimentais foram apresentados dentro do teatro; os trabalhos que contavam com coreografias bem estruturadas seriam levadas para fora, e se tornariam, só por isso, experimentais também...
O balanço final foi muitíssimo positivo, e falo isso mais do ponto de vista da professora. Claro, as aulas foram suspensas nesse dia, mas penso que estes alunos que tiveram a oportunidade de comparecer tiveram uma aula/vivência maravilhosa. Alguns alunos comentaram que gostariam que esse tipo de evento acontecesse todo mês, e também que isso pudese ser realizado em Novo Hamburgo. Também ouvi comentários de que é muito bom ter a liberdade de fazer o que quiser em cena e mudar ou inventar à vontade. Claro, não se trata realmente de "fazer o que quiser", mas isso é o bom senso dos bailarinos que vai ensinando... e a técnica. É, sim, um exercício de liberdade dentro de uma arte, e os trabalhos apresentados no evento foram coerentes com esse princípio. Não aconteceu apenas "loucurada" total, nem resolução de "crises pessoais" em cena, como reclamam alguns críticos do trabalho experimental e improvisatório.
Feliz com os resultados alcançados, preocupada com a assimilação da experiência e com a continuidade dos processos (formativo e artístico), sigo tentando construir os meus papéis de artista e professora...


No comments:

About Me

My photo
O meu melhor papel nesta vida é o da aprendiz. Por isso o nome deste blog é apprenticeship, e provavelmente por isso gosto e quero fazer cada vez melhor o papel de professora. ..