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Thursday, June 08, 2006

A terceira aula do curso de Qualificação para Professores 2006


Está começando a ficar difícil de manter os relatórios atualizados... o semestre aproxima-se do final e os eventos começam a aparecer e exigir nossa presença... mas vamos tentar recordar o que fizemos na terceira aula:
Inicialmente, completamos a leitura dos conteúdos do primeiro ano. Para as leituras, utilizei o seguinte procedimento: pedi a cada aluno que lesse um bloco de passos para cada mês (o bloco de exercícios de barra, ou o bloco de centro, ou o allegro), e após essa leitura verificávamos se todos entendiam, se conheciam todos os passos, se sabiam como introduzí-los aos alunos. Essa leitura de cada participante foi importante, para verificar se todos sabem ler os termos em francês e relacioná-los à pronúncia (que eles já conhecem de ouvido), identificando o passo. Alguns alunos tiveram dificuldades com a leitura de alguns termos. O termo que causou mais dificuldades foi o temps lié. Minha expectativa, como professora, é que eles gravem essas palavras e associem a grafia à pronúncia e ao termo. Porém, como vários dos participantes do curso são adolescentes, ainda bastante irresponsáveis e desligados, temo que esses detalhes se percam...
Enfim, como ouvi ontem na minha Masterclass de violão na UFRGS, as "dicas" que um professor dá só têm valor quando o aluno está preparado para compreendê-las. Isso é verdade. Por isso às vezes um professor se sente (com o perdão da comparação, é apenas uma analogia) "atirando pérolas aos porcos". Muitas vezes sabemos que estamos entregando a chave de ouro para a solução de uma dificuldade ou uma falha que o nosso aluno está enfrentando... mas ele não está pronto para ouvir ou entender aquela dica ou aquela correção. ele não está maduro para aquele nível de reflexão. Às vezes pode ser a forma como o professor expõe, às vezes é pura falta de conexão no cérebro do aluno entre o problema e a solução. Costuma ser um pouco frustrante para o professor, mas então, é uma lacuna nas competências, justamente tema que ainda pretendo abordar no curso, mesmo que superficialmente. Tem várias facetas este ofício de professor...
Esse desabafo frustrado meu foi agravado ontem pela resposta de um aluno, provavelmente o caso mais difícil que tenho na turma de ballet e no curso também. O rapazinho em questão tem 15 anos e tem muito interesse na dança, mas tem uma imaturidade cerebral (e também física) exasperadora. Fiz a ele uma pergunta teórica sobre a denominação de uma posição que estávamos utilizando na barra (écarté devant), e ele errou. Até aí está OK ainda, pois todos podem errar ou acertar com igualdade de chances, mas o pior foi o complemento da resposta. Quando ele percebeu que tinha respondido errado, quis consertar com a desculpa: "eu tinha pensado em chutar devant". Isso foi uma imensa demonstração de inconsequência com o que ele está estudando, pois ele teria plenas condições de pensar seriamente na resposta, ao invés de apenas "chutar" qualquer coisa. Isso me leva a avaliar como péssima a assimilação de matéria desse garoto, e a pensar que ele não está preparado para receber todas as informações que está recebendo...
Voltando às atividades da terceira aula, uma das professoras comentou que sentia falta do pas de chat na metodologia, pois acreditava que os alunos podiam aprendê-lo mais cedo. Procurei na metodologia, e encontrei o pas de chat no 7º mês do 4º ano, conforme a grade curricular adaptada que fizemos para utilizar no Domus (na grade original da Escola Cubana, esse passo encontra-se no 2º ano, mas vem dentro de uma ordem de passos anteriores que não deve ser alterada). Devo me lembrar na próxima aula de indicar a ela onde esse passo está, e por que ele não deve ser introduzido anteriormente. Complementando aqui o comentário sobre esse quesito, vejo que isso é um dos principais problemas que costuma resultar em alunos com formação deturpada em ballet. Os professores julgam que certos passos são "simples" e que os alunos já estão preparados para aprendê-los. O que acontece então é uma assimilação deturpada das verdadeiras características daquele passo, problema esse que é muito difícil de corrigir depois de arraigado no corpo dos alunos. O aluno aprende a reproduzir a forma de um passo antes de ter as condições físicas para executar o seu formato completo, com todas as suas características. O aluno pensa que está executando aquele passo, mas está fazendo uma imitação pobre e descaracterizada. No caso do pas de chat, por exemplo. O passo exige uma grande elevação, um deslocamento e uma amplitude de movimento da virilha bastante vigorosos. Devem se executados dois passés perfeitos no ar, em pleno en dehors, com a coluna bem ereta e com uma bela sincronização de braços. A partida e a queda devem ser em 5ª posição. Esse salto exige uma capacidade de saltar alto, pois há movimento coordenado das duas pernas enquanto a bailarina está no ar. É possível obter uma imitação bem limitada desse salto com os iniciantes, mas essa imitação depois se estabelece como a forma final desse passo no corpo do aluno, e é mais complicado mudar mais tarde um conceito já assimilado pelo corpo. Preciso reforçar essa argumentação com as professoras que estão fazendo o curso, pois é necessário que elas compreendam que os passos devem ser respeitados com suas plenas características, para que nossos alunos não fiquem fazendo sempre, como dizem algumas pessoas que conheci, "ballet de escola em cima de padaria*" ou "balezinho de festival".

Após estudarmos todo o 1º ano, falamos sobre estruturas de aula. Entreguei para os alunos uma folha com duas sugestões de estruturas de aula: uma da escola cubana e outra do Prof. David Howard, que trab alha nos Estados Unidos e cuja formação foi na Escloa Inglesa. Lemos as sequências de exercícios de barra, centro e allegro e discutimos os motivos daquela determinada ordem. Também comparamos as duas aulas e os alunos fizeram perguntas sobre coisas que não sabiam bem o que era, como o adagio e pas de cheval. Estas duas estruturas de aula são para aulas avançadas e por isso têm todos os exercícios de ballet. Porém, como no nosso caso estamos estudando o 1º ano, pedi para os alunos se reunirem em grupinhos (de 3 e 2 pessoas) e escreverem uma estrutura de aula para o 2º mês do 1º ano.
Os alunos discutiram bastante nos grupos e montaram suas aulas. Depois, nos reunimos novamente para mostrar as estruturas de cada grupo. Em geral, os grupos pensaram em inícios de aula com brincadeiras ou no chão, com muitos exercícios de conscientização e de fortalecimento, geralmente com aspectos lúdicos, visto que no 1º ano as crianças são pequenas (entre 7 e 8 anos) e gostam de fantasiar (sobre borboletas, flores, bonecas, contar um segredo, etc.). Os exercícios de barra eram poucos, pois há pouca variedade de passos. As estruturas variaram entre três a cinco exercícios de barra. Após, os grupos colocaram alguns exercícios de centro, deslocamentos na diagonal, jogos envolvendo dança e momentos de improvisação. Continuei salientando a importância dos exercícios complementares, que fortalecem e alongam, preparando o corpo. Também elogiei a inclusão de trabalhos de expressão ou improvisação, pois a prática da "composição", mesmo em forma bem incipiente, é importante para a formação em dança.
Concluí a aula pedindo que, para a semana seguinte, eles preparem a tarefa proposta na folha de planejamento entregue na 1ª aula (um exercício que trabalhe a articulação coxo-femoral). Na próxima aula, vamos verificar as propostas de exercícios trazidas pelos alunos e avaliar a sua adequação e a sua eficácia. Acho que é importante que eles domonstrem como pretendem encaixar o exercício na contagem ou na música, se for o caso.
Pretendo ainda preparar pelo menos uma lista básica falando sobre as competências do professor, para que possamos discutir um pouco o ofício de professor. Como já seria de esperar, não vou conseguir cobrir amplamente todos os assuntos que foram planejados para o curso, mas pretendo pedir para os alunos fazerem uma avaliação de aproveitamento e de valor do curso para sua formação.


* Esse termo foi utilizado por uma professora de Saõ Paulo. Ela disse que lá são comuns as escolas pequenas localizadas em pequenos prédios, onde a sala de ballet fica em cima de uma padaria, e a qualidade do trabalho é lamentável. É só um preconceito, mas é um termo engraçado que serve para dar uma imagem de ballet mal trabalhado.

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O meu melhor papel nesta vida é o da aprendiz. Por isso o nome deste blog é apprenticeship, e provavelmente por isso gosto e quero fazer cada vez melhor o papel de professora. ..